quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011





O QUE IGNORAM OS CÃES ?

"E assim neste ócio profundo
Sem males vistos ou bens,
Sinto que todo este mundo
É um largo onde ladram cães."
Fernando Pessoa 


, um cão mija sobre o cinza do poste.
é um cão de rua apenas,
mas ainda assim
(num tempo breve,
que ele ignora),
garotos o obrigarão a correr
milhas e milhas
com latas amarradas à cauda.

“  ...   nossos   princípios   não   sabem
como   serão   os   nossos   desenlaces.  "
escreveu o poeta em seu caderno de notas




***





À JANELA
ou
Como Matisse no “ Beau Village

“Quem faz um poema abre uma janela”
Mario Quintana

“Para um verdadeiro artista uma
janela é tema para a vida toda”
Lídio Bandeira de Mello


, de repente manhã
e eu com aquela minha cara
e a xícara de chá nas mãos
olhando a manhã pela janela
sempre me sinto assim:
abarrotado de luz nas manhãs
e por todo o dia permanecerei cristalino
entre o que não pode ser explicado e esse azul
cante um cântico
ore
      implore
a Deus para que eu
e minha sombra correta
                                    longa
                                             e nua
Conheçamos o azul cordial
                                          e ingênuo
das hortênsias sob a luz da manhã
nos degraus de uma porta qualquer
ali em frente


do córrego permanente da vida
brotam meses após meses
como mais este mês de julho
que agora se esvai
restaurando no ar a demora
Já olho a existência com olhos fatigados
ao meu redor meu desacordo
mas ainda assim digo “NÃO!”
cheio da calma nua
pelo meu querer inexato de
ainda provar o que não conheço


rio feliz diante da xícara de chá
reunindo apenas paciência e renúncia
e renúncia e paciência às pedras do tempo,
para reinventar a existência e a paz
(qualquer que seja ela)
a mesma velha paz que impregna as torres
embandeiradas da igreja no outeiro
não essa outra coisa que agora soa na vidraça