PAisagem [Q] pósTumA
, riscando um arco no céu,
pássaros sarcásticos
ofereciam uma revoada como um afago,
uma oferenda;
ao longe uma fileira de casinhas
de um branco fútil,
feriam a paisagem;
um gato cínico e azul
velava, apaixonado,
a entrada do pequeno jardim
e suas pedras
e suas flores desconfortáveis,
e seus antúrios de sexta-feira,
onde também florescia audacioso um girassol.
A luminosidade ocre e obscena daquela tarde
desfalecia num pequeno lago natural
onde peixes nadavam seus vermelhos obstinados.
Um Deus maroto
(provavelmente),
desde tempos remotos,
apontando os céus na cordilheira aguçada
distante, distante.
para sempre, habitando a memória do menino audaz.
, um bate-papo, um dueto,
eu e você: um aqui outro lá
(encontro),
Um diante do outro: pas de deux,
dançando na rua,
sobre a geometria úmida e rigorosa
do calçamento, na chuva,
(ou com lobos, ou com leões).
A cidade, ao longe, na cerração, bela.
(ainda lá está o lampião inútil )
Eu e minhas imensas asas negras,
olhando à direita na amurada,
observo nada.
É verdade, confesso,
domestiquei - o numa pintura
(quase um Magritte),
Ele entre grandes bocejos,
contra o céu ocre, indiferente.
Seu felino despudor e impiedade,
domados pela precocidade
serena do outono,
sabem da diferença entre
o perene e o bolor.
Desta realidade
extraio esta arte consentida,
na penumbra construindo
esta história em branco e preto.
e nesta permanência imperativa
o que não é transe é negação,
Som, vinho e palavras, palavras, vinho e som.
Assim atravessamos dançando
o deserto desta tarde/noite
onde viver é como
arquitetar um homicídio.
Nos bemóis deste outono,
antes tardo que eunuco.
Ao longe uma única vela branca.
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