Clary Ice é foda!
Parte durante o dia no seu barco cereja, à vela,
mas sempre retorna, antes que os ventos
noturnos façam a vela, o barco e a ela mesma de idiotas,
para as promessas de vôo que o sono lhe concede.
E sonha com sujeitos loiros e surdos,
metidos em frágeis ternos de papel craft
- como eu sonhei, e acordei ansioso,
mas você ainda estava ali, deitada ao meu lado,
tua cabeça fazendo pressão sobre meu peito... -
que ela rasga com grande satisfação,
rindo irônica pelo que revela.
Clary Ice é foda!
Mas quando precisou de mim
eu não estava lá esperando por ela,
Apenas um dia na vida e eu não me encontrava lá
(e já era dezembro, e ela deve ter me procurado ansiosa
com seus grandes olhos de cabra, amarelos e ternos,
enquanto cantava “Happy Xmas (war is over)”
e essa imagem ainda dói em mim quando lembro ...),
isso seria o suficiente...
E quando a amizade perde o valor
tudo se torna negativo,
tudo se torna invisível para a dor,
que vai se ampliando e suas areias
- Ole Lukoeje -
fazem do coração um deserto.
Mas Clary Ice limpou o seu
com as mãos tintas de lealdade.
Clary Ice é foda!
Uma manhã despertou com um som,
um estranho som de tambores e xilofone,
um chamado.
“... quem estaria tocando a música desta manhã?”
E a manhã de sol raiando dourada em seu peito.
“Apenas o desejo troando no coração dessa manhã”, concluiu.
Ela sabe: as coisas não vêm facilmente.
Pôr-se a cantar, vestir-se com rigor,
saltar de pára-quedas
ou se enterrar na cozinha,
como um belo pássaro em uma gaiola
não vai fazê-la melhor do que ninguém,
ela sabe: as coisas não vêm facilmente.
Clary Ice é foda!
Claro, ela vai te questionar:
“... você esqueceu todo o sofrimento,
anos após anos, lá na fábrica ...?
Já esqueceu toda a dor do passado,
e esconde isso do teu único herdeiro?
Isto, em absoluto, irá fazer dele um grande cara,
ao contrário, o futuro não é alcançado
com nenhuma posição zen, chan, dhyana,
ou com aquela mandala em preto e branco
num pôster na parede.
Os desejos continuarão troando
no coração da manhã!”, etc.
Mas ela só quer a tua confiança,
Clary Ice é foda!
E eu continuei a fazer girar,
com um arame, meus carretéis coloridos
pelas ladeiras. E ela ao meu lado
com seus street rollers e os cabelos,
muito negros, ao vento da tarde
( “..., folhas das árvores caem quando estalo os dedos!”
“..., quando soluço, crescem-me as unhas dos pés!” ),
embora com as duas marcas que os caninos
do tempo deixam em nossos pescoços.
Ambos percebemos as pessoas e os relógios
(como a serpente mitológica),
fabricando certezas.
Porém, a música dos lírios lívidos e silenciosos,
macia como o pingar das velas,
nos tornou responsáveis pela paz saudável,
paz que construímos em nossa imaginação.
Uma paz fulgurante,
contas de cristal,
suficientemente grandes para serem vistas
mesmo na doçura das noites mais escuras
(na noite mais escura de uma terça-feira sem lua).
Clary Ice é foda!
Poucos saem vivos deste medo
cinzento de arder de paixão
(medo que de um cardo faz uma coroa - de - espinhos),
num outono público.
Toda a luz daquele sal uivando,
tão conscientemente cinzento,
queima as retinas.
Nós também, protegidos do sal cinzento
que queima nos olhos,
saltamos e não nos arrependemos,
à direita do meu olho, o pombo num vôo retilíneo
(que sigo com o olhar),
a direita do seu pescoço a pequena tatuagem.
Mesmo que passemos do outono ao verão
sem nos vermos, ela pega no telefone,
(ainda que tarde da noite)
me liga, e eu retorno para lá,
sim eu me transporto para o seu lado...
Clary Ice é foda!
###############
Nenhum comentário:
Postar um comentário