quinta-feira, 30 de abril de 2015
O
QUE É A "FELICIDADE"?
,
ela é jovem e imperativa:
“Olha
para mim, eu tenho pernas bonitas e fortes!”
“Olha
para os meus quadris, eu tenho ancas,
todos
os vestidos foram feitos pra mim!”
(E
pega todos eles, me pede que escolha
o
melhor e eu escolho o mais adorável,
aquele
que vai por pra cima toda a sua beleza)
“Eu
fui uma boa menina por todo esse tempo
e
vivi o suficiente para me tornar
uma
boa mulher, eu mereço um vestido novo!”
“Me
abraça, diz que me ama!”
Eu
sei que algumas pessoas não conseguem
ler
o mesmo livro mais de uma vez
mas
não eu, eu gosto de repetir
há
sempre algo novo
por
isso fico feliz de estar ali
em
mais uma loja
(e
já é a quarta hoje)
mais
uma vez
e
repetir todo aquele ritual
e
aquele exercício de “estética do desígnio”
e
ouvir aquelas frases
Meus
dias com ela hoje
(de
alguma forma)
ficam
mais longos e agradáveis
e
um vestígio de juventude ascendeu em mim,
e
meu coração adeja
como
uma borboleta
da
gravuras japonesas na parede
Mais
tarde já em casa
ela
de vestido novo, vai desfilar diante de mim
e
vai arranjar as flores em uma jarra
e
toda a belezas daquelas cores
lá
por dias, lembrando suas mãos hábeis
FELICIDADE
É ALGO QUE SE DECIDE ANTES DA OCASIÃO!
quarta-feira, 29 de abril de 2015
TEUS OLHOS CASTANHOS, ESCUROS
E AMÁVEIS COMO OS DO FADO
, sim, ainda que não queiramos
pra sempre estaremos ali
no nosso pequeno quarto
“menina” de olhos castanhos escuros,
amáveis e leais como os do
fado canção
E teu corpo entalhado na luz obliqua
(azul e tão feminina)
da janela
sob as suaves e lascivas
palmas das minhas
mãos imensas, longas e leves
E tua musculatura pulsando,
serena e crua sob o meu corpo,
a medida que a noite avança
pela madrugada
e lá vamos nós
impunemente, mais uma vez
Minhas mãos estão no teu cabelo agora,
E ele é excitantemente curto
e vejo como teus olhos castanhos
escuros, amáveis e leais como os do
fado canção, me olham desejosos
e um clima Manara invade nosso quarto
e tudo é tão natural, ingênuo e soberbo
(sim, as revistas ainda estão lá sobre o baú
sim, o amor é uma coisa requintada!)
E me trazes sempre o que preciso
e eu te ofereço “o que resta de mim”
como no bolero
e desmorono entre as fendas
de tua pele e é ali que permaneço
usufruindo daquele conforto obsceno
e cálido
Em breve nossos corpos adormecidos
tuas pernas fortes em minhas pernas
teu braço no meu braço
tuas costas, teu sorriso e teu calor
e teus livros e lágrimas
e teu beijo
nossas noites e o silencio obsequioso
de nossas manhãs e o nosso café da manhã
quando o único som é apenas
o do pássaro angustiado
do vizinho que salta e gorjeia em
sua diminuta gaiola
Você me fez rir novamente
menina dos olhos castanhos
escuros, amáveis e leais como os do
fado canção e você compreende,
estive esperando este amor
por todos estes longos anos
(o desamor se sabe, é território da solidão
onde a consternação também reside,
a teoria dos conjuntos explica isso),
mas ainda que amar alguém seja sempre
entregar-lhe a carta geográfica de
nossas covardias, ambiciono este encanto
e pra sempre estar ali
no nosso pequeno quarto.quinta-feira, 9 de abril de 2015
ANTES
QUE CHEGUE O OUTONO
.
,
seu desejo acionou minha coragem
e
ela se entregou
(body
& soul)
e
sorrindo cantarolou ao meu ouvido
(baixinho)
" [...] meu bem, vem viver comigo,
vem correr perigo
vem morrer comigo, meu bem ..."
Não
foi a sugestão na palma da minha mão,
não,
não foi,
foi
o inesperado.
Com
minha devoção
(e
com minha sombra esguia)
me
atrevi a apagar-lhe
as
cicatrizes que floresceram
em
sua alma
Em
sua juventude,
como
o delicado
aroma
perfumado de flores intensas,
floresceu
encantando e seduzido
com
sua beleza
Passada
a loucura, agora,
antes
que (pra mim) chegue o outono,
conduz
meu entusiasmo
e
imperiosamente exige minha admiração
Tudo
o que eu poderia ver diante de mim,
eram
seus olhos,
(nem
o verão havia visto ainda)
tudo
o que eu podia sentir
era
o seu coração,
tudo
o que eu poderia saborear
era
sua ternura
e
comecei por dizer-lhe:
o
céu dos seus olhos,
a
oscilação dos seus lábios,
o
fogo do seu sorriso,
o
abrangência dos seus braços
o
perambular dos seus seios,
o
acalento de seus quadris,
a
alegria dos seus pés,
o
glamour de seus passos,
a
graça do seu jeito
quando
chega sobre
os
cliques dos seus saltos,
tudo
me deixa orgulhoso
e
com a necessidade de cuidar de ti,
mas
não posso tocar seu(s) mistério(s) interior(es).
terça-feira, 7 de abril de 2015
VÉU
DE VERÔNICA
,
a mulher da minha vida,
(uma
bela mulher que agora sabe
em
que mentiras se encontram
minhas
verdades mais secretas)
deixa
resíduos pela casa
impunemente
na
sala flores
(em
belos arranjos
aleatórios),
sorrisos
(desenhados
em batom carmim)
e
o tempo, sobre o baú
abarrotado
de revistas em quadrinhos
“It's
the Honky Tonk Women…”
(a dissoluta
a trilha sonora)
na
cozinha as doces estratégias
dos
frutos,
das
geleias
e
palavras e lágrimas
lágrimas
e palavras
no
café da manhã
no
banheiro os perfumes
e
sabonete
e
os cremes mais delicados
e
a maquiagem
na
toalha
("Véu
de Verônica")
decorada
com os ideogramas do desejo
e
ancas e nádegas e seios
no
vapor do box blindex.
no
quarto todos seus vestidos e
o
arrepio na pele e a boca(s) úmida(s)
e
os gemidos, e o medo
os
sapatos de salto
e
as coxas inconstantes.
a
mulher da minha vida
deixa
resíduos pela casa
enquanto
marca
à ferro em brasa
minha
pele
ela
me diz sussurrando
que
sou o homem da vida dela,
mas
isso ela diz pra todos os outros.
ANJO
SOLAR
(Zürck
d'après Bukowski)
.
Ela
é musculosa, é magra, é feminina
Donzela
da sala de estar
colar
de vermelhas pedras
belos
quadris cobertos por
um
longo e colorido
vestido,
(onde
os laranjas predominam)
está
sempre alta
em
sapatos de salto
escritos
pernas
gestos
expressões
Sol
se inclina
na
cama
inclina-se
em direção ao
centro
geodésico
do
seu próprio corpo
que
pulsa vívido e comovente
Aguarda
que lhe leiam
“ESTRELA
DA MANHÔ
enquanto
seus belos lábios,
num
batom carmesim,
tocam
sensualmente
a
pele vermelha do caqui.
Ama
Sant Laurent
e
despir-se.
Morde
o caqui e
pensa
na necessária astúcia
de
quem ama estar viva.
Aos
mais de 40 ela gosta de
homens
limpos
cultos
com
cabelos, tóraxes e fisionomia
semelhantes
ao de Paul Thomas
em
“Jesus Christ Superstar”
...
enquanto estamos na mesa o café da manhã
a
beleza de seu riso se impõem
e
ela exibe a coronha de sua espingarda
(despudoradamente
e sem culpas,
com
dezena de marcas feitas a canivete,
seus
galardões)
para
que eu deia uma olhada:
...
homens inexistentes e silenciosos,
mas
ainda assim, extraordinariamente presentes que
a)
sentam
b)
levantam
c)
leem poesia
ao
seu comando
às
vezes traz um
às
vezes dois
às
vezes três
para
que eu os
veja,
e eu sei que
em
menos de
um
quarto de hora,
vai
se por a chorar!
Sol
fica muito bem em
shortinho
estampado com motivos florais
e
com seu riso honesto, suas ancas,
suas
belas e musculosas pernas
e
seus seios firmes
Sol
pode partir provavelmente
o
coração de um homem
assim
que encontrar um, e encontrará.
(se
é que já não encontrou,
Sol
não é de perder tempo)
ORAÇÃO
.
Você
minha
Madona del Garofano,
minha
Virgem de Granada,
mostra-
me
(eu
menino)
a vertigem da flor do cravo,
a vertigem da flor do cravo,
que
tenho necessidades de pássaros.
.
Madona
del Garofano,
aqui
estou eu em pé à sua frente,
um
menino e seu manto azul
de
tecido leve, transparente
e
tempestades
e
tempestades.
Amém!
CANÇÃO
A UMA MESA NUM CANTO
.
,
no canto uma mesa desocupada,
palpites
e carícias.
Sentamos
ali,
o
rio do tempo,
incólume,
escoa
no
verão, lá fora.
Eu
calado te desejando
consideravelmente
(vestida
de vermelho)
tua(s)
bela(s) boca(s).
Bebes
da taça rubra agora
sem
julgamentos e tão próxima.
Eu
não como, tampouco bebo,
apenas
murmuro a canção
do
nosso amor no futuro do presente,
naquela
mesa do canto.
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