“ DE UM-TUDO NA ESTAÇÃO DA CENTRAL”
Crianças esquálidas correm e esmolam por ali.
Também um cara vestido de palhaço, um camelô.
... um bêbado e um ladrão lá
(e um travesti e uma puta)
e ainda os quatros elementos e o som e a saliva
(e a saliva e o som).
Muita gente, muita confusão,
mãos e olhos e ossos negros,
que não dizem nada.
Só se experimenta a verdadeira dimensão da solidão
( esmagadora e absurda ),
na estação da Central, às 18 horas de uma quarta-feira.
Longe, bem longe dali, homens de negócios
bebem seu vinho com os homens da religião
(qualquer pessoa de um “certo nível” é suspeita,
e há muitas delas neste mundo),
e eles acreditam que vida é uma anedota de salão,
( sobre a pele - negra - tatuada do muro,
os insetos riem-se deles.
E de nós também, enfim...)
mas eu e você sabemos: NÃO É!
E esse é nosso destino.
(a) Crianças falam sem entusiasmo;
(b) O cara vestido de palhaço, reservadamente,
fala ao camelô de suas recentes despesas;
(c) o bêbado fala ao tempo;
(d) o ladrão fala com bondade às crianças.
(o travesti e a puta não se falam)
(e) “Ninguém conclui que há muito aqui estão?”
De um-tudo na estação da Central,
“O que eram no princípio?” Assegura esta visão...
De onde vieram todas essas mulheres e crianças
e palhaços e camelôs e bêbados e ladrões
(e travestis e putas)?
Quem eles eram, antes disto?
Brincaram de ver bichos nas nuvens?
Os empregados, sabemos quem são, estão de pés descalços
lá longe, na distância fria do subúrbio,
tentando dormir em meio a gritaria dos gatos e do casal no 311
(e o vento agora começa a uivar nas frinchas da janela).
Neste dia que (desgraçadamente)
precisa ser como outro qualquer,
de um-tudo na estação da Central.
Na estação e em todos os lugares,
e em todos os lugares nós estamos,
eles estão...