quinta-feira, 19 de julho de 2007

DA SÉRIE: "PELE DE PAPEL" (por ocasião dos 30 anos do criminoso lançamento da bomba A sobre Hiroshima)

Ao nascer o sol era generoso gigantesca bola amarela de um fogo trêmulo flutuando sobre o mar (ainda negro da noite agonizante) tremeluzindo contorcendo-se ao calor Nuvens passando ensangüentadas,

"... não é o mesmo sol que agora vemos quero o sol da fotografia!"

O plutônio aspirado mata (provoca câncer) câncer essa busca do passado pela beleza que brotava entre as montanhas

"... meu pai minha mãe" "agora vegetamos semi-mortos (semi-vivos) oprimidos nem animais nem plantas..."

seus pais morreram lá (uns na hora outros lentamente o câncer mata lentamente continua matando)

"... a beleza que povoava este lugar (ainda se percebe) nos grãos de areia nas pedras a água véu de gaze até as montanhas desenhadas em azul no céu azul azul" "as árvores a cachoeira brotando da floresta escorrendo entre plantas"

"tudo ali está morto as pedras a areia" (impregnada de partículas energéticas radiação morte a quinhentos quilômetros)

”os pescadores no arrastão a lua as crianças os peixes (ainda vivos refletindo feito faca) as crianças bolinando os peixes crianças as casinhas caiadas os telhados vermelhos”

(vagina aberta na areia branca os pêlos verdes) O césio, o estrôncio, igualmente venenosos (alguns minutos bastam para contrair-se um câncer) ”Repentinamente incêndio, pânico e correria, ignorância do perigo, os peixes, as crianças, as feridas, o inspirar e morrer, a pele (de papel) rasgando” o metal fundido a liberação total da radioatividade os pêlos verdes as vaginas a areia o césio o estrôncio ”a garganta (como se) aberta à navalha” agonia morte silêncio mudo e expectante os cadáveres apodrecendo, as árvores os peixes o mar o ar apodrecendo "... todos ignoravam o perigo (covardia!) ninguém sabia o que fazer..."

"... meu pai minha mãe as fotografias na parede"

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