Ao nascer o sol era generoso
gigantesca bola amarela
de um fogo trêmulo
flutuando
sobre o mar
(ainda negro da noite agonizante)
tremeluzindo
contorcendo-se
ao calor
Nuvens passando ensangüentadas,
O plutônio aspirado mata
(provoca câncer)
câncer
essa busca do passado
pela beleza que brotava entre as montanhas
seus pais morreram lá
(uns na hora
outros lentamente
o câncer mata lentamente
continua matando)
"... a beleza que povoava este lugar
(ainda se percebe)
nos grãos de areia
nas pedras
a água
véu de gaze até as montanhas desenhadas
em azul no céu
azul
azul"
"as árvores
a cachoeira
brotando da floresta
escorrendo entre plantas"
"tudo ali está morto
as pedras
a areia"
(impregnada de partículas
energéticas
radiação
morte a quinhentos quilômetros)
”os pescadores no arrastão
a lua
as crianças
os peixes
(ainda vivos refletindo
feito faca)
as crianças bolinando os peixes
crianças
as casinhas caiadas
os telhados vermelhos”
(vagina aberta na areia
branca
os pêlos verdes)
O césio,
o estrôncio,
igualmente venenosos
(alguns minutos bastam para
contrair-se um câncer)
”Repentinamente
incêndio,
pânico e correria,
ignorância do perigo,
os peixes,
as crianças, as feridas,
o inspirar e morrer,
a pele (de papel)
rasgando”
o metal fundido a liberação total da
radioatividade
os pêlos verdes
as vaginas
a areia o césio
o estrôncio
”a garganta
(como se)
aberta à navalha” agonia
morte
silêncio mudo e expectante os cadáveres
apodrecendo, as árvores
os peixes
o mar
o ar
apodrecendo
"... todos ignoravam o perigo
(covardia!)
ninguém sabia o que fazer..."
"... meu pai
minha mãe
as fotografias
na parede"
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