I
Diante de ti,
a mim ocorre o que ignoro:
que gesto anônimo
(pleno de verdade,
como se de Volpi fora),
concebeu rigoroso e sensual desenho,
onde minhas retinas cansadas
(como as de Drumond)
advinham fragmentos do querer
em tua lúdica geometria lasciva,
lúbrica?
Que mãos luxuriosas
tornearam tua carne:
sinuosas imagens do desejo,
que percebo quelóide em tua pele
de pedra e saibro?
II
Como um Fado às avessas,
ouço o murmúrio de tuas entranhas
inventando e
reinventando o tempo.
Ouço das paredes
(agora, à distância, tão lindas)
complexos cromatismos,
tecidos na anatomia da argamassa
(óleo de baleia e pedra).
De sombra e luz,
o cromatismo do tempo
em prosaica lida.
Resquícios de vida nos teus desvãos.
Arquitetura do tempo.
Diante de ti,
a mim ocorre o que ignoro.
“(...) aquele que constrói
tem mais honra do que a casa.”
Hebreus 3:3