Toda carta pode dizer dos golpes que recebemos nas estradas,
toda fotografia pode mostrar, nas coisas de luz,
como todo este amor poderia ser dado
(que ao final é o que importa).
Toda pessoa pode dizer (num sussurro) do vendaval,
da chuva, se dorme de dia
ou se a noite permanece em seu coração.
Mas quem é capaz de dizer (mesmo que aos gritos)
para onde vai a estrada ou as marés do dia;
ou por quem o coração (que a tarde não cura)
chora se se morre de amor?
E quantas fotografias (emolduradas)
poderiam mostrar as borboletas
carmim dos suspiros vestidos de sombras?
E quantas cartas podem dizer do amor no coração
de quem o escolheu e de como ele o cultiva?
Durante a noite do coração só cartas,
fotografias e falenas podem dizer
das marés do dia áspero.
“NÃO”, O QUE SE OUVIU
Para o Hebert,
o cara mais Dalai Lama que jamais conheci
A dor da ausência
(marcada a ferro quente)
deve se parecer com isto
em todo o mundo.
Vida não se corrige,
como corrigir o arado do tempo?
crescemos juntos, duas crianças e um cão no parque,
apaixonados pelo verão,
esculpindo nosso mundo
sinalizado com latidos, abanar de cauda
e uvas - passas - de - corinto,
caminhando sempre para onde indicava
a agulha imantada da bússola,
a amizade
( o mágico das pessoas )
dando toda cor às ações e emoções.
E você que esperou pacientemente
por bons ventos tantos anos
(aprendendo da melancolia o mel,
da felicidade o fel),
observando as latitudes e as longitudes,
duvidando da chuva,
ouvindo os gritos do tempo
(que nós move),
do tempo pleno de cores berrantes
(que são as únicas cores que o tempo parece possuir),
mas também das cores
(da descoberta e da entrega)
que se empresta a realidade
para que encha de prata as têmporas
e de castanho as folhas púrpuras do tempo,
senhor da verdade mas, também, pai do “não”.
... o que se escolheu como eterno,
disto é feito nossa eternidade.
De algo que pertenceu a nós por um segundo,
dessa paisagem, branca de ausências e de abraços,
que alguém pintou sobre esse véu de gaze,
como um céu
(ausente do tempo, das cores do tempo e dos relógios)
superficial e próximo,
e quanto mais próximo ao céu se está,
mais se adquire esse aspecto passageiro.
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