quinta-feira, 19 de julho de 2007

IV ato

o homem à janela resignado olha o horizonte aprisiona uma mosca com a mão espera esperança

trem ônibus barraco escritórios apartamentos janelas (no 10º não-sei-quanto andar)

olhos no horizonte espera esperança tem o homem à janela a menor poeira que levanta levanta o homem sua cara se enche de sorriso e rugas das velhas árvores das folhas de couve bolinhas de vidro colorido das árvores-de-natal seus olhos o homem tem esperanças à janela olha o horizonte e e espera aquela poeira ao longe enche-lhe os olhos a alma esquece a amada a masturbação as revistas pornográficas os lusíadas o cheiro de mulher (nos dedos) o homem olhos no horizonte espera tem esperanças à janela cada vez maior a poeira escorre verde no céu o bêbado caído (de bruços) na esquina não vê nem a cidade oca cada vez maior a esperança clara contra o céu negro ]sangrando apunhalado pelas torres elétricas pelas antenas nos edifícios (inúteis) poeira de esperança crescente no céu o homem olha e espera há esperança no horizonte vê-se da janela

dos trens dos aviões dos puteiros beira de mangue (nos 10º sei-lá-quanto andar)

este homemtodos crucifixado no horizonte espera poeira de esperança que vem como(nas noites de junho) as estrelas pintadas a cal aqui na teia a aranha estrebucha se extinguem as noites de são joão o cal as estrelas a poeira passa brincava (apenas) o vento e o abutre come-lhe a esperança (como a Prometeu o fígado) amanhã nascerá outra o homemhomens

(teria chorado?) senta-se assoa o nariz com a mão (jogando a coriza ao chão)

recorda-se das mulheres dos sonhos eróticos das poluções (pele colada ao pijama) do corpo/alma que tem atrás dos óculos de sol dentro do nó de gravata mergulhado na xícara de café pendurada em cabides no guarda-roupas uma poeira (ao menos) uma poeira de esperança virá olho comprido no horizonte espera(m) o(s) homem(s) à janela

(fim do IV ato)

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