quinta-feira, 19 de julho de 2007

II ato agora aqui estou bolo alimentar de dragão mecânico (de homens que o criaram) dragão mecânico se arrasta pela artéria esclerosada do trânsito carioca

B R A S I L país - avenida (não confunda)

dragão mecânico devorando vomitando operários lavadeiras crianças artistas velhos putas defecando monóxido de carbono

R A M O S o dragão cospe na calçada a banhista com cara de dançarina da Broadway da praça Mauá

a falta de espaço no estômago do dragão obriga homens e mulheres a esfregarem-se masturbarem-se acasalarem-se (nunca um acasalamento normal) a fêmea calada a volumosa presença do macho espremida machucando volumosa a jovem pudica pudica madona goza apenas em medir (com os olhos) os volumes

gente árvores bichos (correm de costas) lá fora

a morte embosca sob a passarela acidente(?) suicídio(?) imprudência(?) sangue no canto da boca olhar sem imagem lama na cara nas mãos todo corpo lama sempre morte miserável monstro mecânico pela terra pelas pedras placas passam viadutos buracos barracos (semeados às margens)

vende-se este barraco tratar aqui

rio Meriti (rio?) garotos banham-se e protestam (em vão) contra a discriminação racial (o rio é negro) fazem fazes e meinha às margens (o rio fede) e o esperma branco escorre fecundando o rio (em vão) as fábricas também ejaculam (seu maldito/mal visto esperma/espuma) na boca do rio magnatas contorcem-se convulsos no orgasmo o rio violado estuprado calado morre calado agora sou eu cuspido à margem e também cuspo um mosquito que me entrou na boca que talvez cuspa uma gota de sangue amargo-envenenado da minha língua (meu idioma) "mas que diabos vim fazer ao fim do mundo?" "lutar por um bom emprego" (responde em coro meus glóbulos cerebrais) minha alma se deixa levar vestem-na com uma túnica encardida deixa-se enforcar não vale mais nada

(fim do II ato)

Nenhum comentário: